terça-feira, 28 de novembro de 2017

Primeiramente, me desculpe por alguma pontuação mal aplicada, só queria escrever algo mesmo. É... acho que destreinei mesmo de escrever. Faz tempo que não visito isso aqui.

Esses dias estava vasculhando algumas coisas aqui em meu quarto: velhos desenhos rabiscados; fichas de cervejas que esqueci de beber; cartões de visita de lugares que nunca liguei/ligarei; ingressos de alguns shows que fui; livros que não são meus (sequer sei de quem são, pra falar a verdade); poucos cartões de pessoas que me desejaram um feliz aniversário ou natal, ou um de uma amiga que estava fazendo intercâmbio no exterior; etc...

Não sei se por acaso ou destino - na verdade sei sim, foi por acaso. Não acredito nesse negócio de destino - achei uma carta, de 2012, de uma pessoa que, no mínimo, tive muito apreço e admiração.

Hey you...
(together we stand, divided we fall)
"Eu não acredito em influências cósmicas". Foi o que você disse, zombando de uma das descrições das redes sociais dela, em que ela usou o signo como adjetivo. E tomaram esse caminho, você defendendo a não influência da astrologia em qualquer coisa e falando sobre livre arbítrio, e ela, que nunca levou o horóscopo a sério, defendendo os signos, seus ascendentes e previsões, só pelo prazer. De discutir. De discordar de você.
Só que sem perceber, vocês pularam para outro assunto, e desse para outro e do outro pra mais outro. Falam sobre música e literatura, o último jogo do Cruzeiro, você viu? Esse sim é meu time! Daí pra Banksy ou Pink Floyd. Ela ri e diz que você só usa xadrez e azul. Você a chama de pentelha e diz o quanto ela consegue ser irritante, sabendo que ela vai querer te irritar ainda mais. Depois dão uma volta na cidadezinha que gostam tanto, costuram cenas da infância. Falam de trabalhos e planos. Talvez de amor. E falam besteira. Uma atrás da outra. Assim, porque é divertido. Porque não precisa ser sério. Você gosta, porque sabe que ela sempre tem uma resposta, mesmo que sua pergunta não faça nenhum sentido. E você sabe que ela gosta, porque porque ela gosta muito - muito mesmo - de tudo que foge do óbvio, que não tem sentido aparente e que pode rimar. Ela nasceu poeta e gosta de tudo aquilo que cabe no poético.
E você sabe também que sua solidão - as vezes desejada, as vezes necessária e até boa, quando não tão fria - coube nas palavras dela. Daí virou texto, virou poesia. Ela se abriu pra você, em letrinhas. Que juntas formavam palavras e frases, que formavam sentimentos. O sentimento dela. Você também deu seus versos pra ela. Acho que foi mais ou menos aí e desse jeito, que o mundo explodiu em palavras.
Tudo isso ai você sabe. Sabe também que ela gostou de você, mesmo que não num primeiro momento. Na verdade, à primeira vista, ela te achou muito rápido e meio fora de órbita. Impressão que foi confirmada mais tarde. Mas ela gostou sim, e você sabe. Ainda que não tenha mostrado muito apego, porque não é mesmo o feitio dela. E esse você sabe que não é convencional. Até porque, à primeira vista, você a achou estranha e curiosa. Impressão que foi confirmada mais tarde, também. Mas não sabe que as madrugadas longas coitaram feridas, e que as brincadeiras não deixaram que viessem as cicatrizes. Não sabe que um dos melhores momentos dela foi um violão tocado do outro lado da tela do computador, via Skype. Não sabe o quanto foi bom pra ela ser lida, por quem quis ler. Não sabe que ela deitou a paz dela no seu colo, mesmo sem querer. Não sabe o tanto que ela te quis bem, porque foi só bem que você fez pra ela.
Só que a gente confia demais no tempo e esquece que qualquer meia verdade é sempre uma mentira inteira. Um dia, você juntou suas notas e foi embora, como que por maldade, e a fez desafinar. Ela demorou pra achar novamente o tom e nem gosta mais dessa música, parece que não tem poesia suficiente pro coração dela. Por isso ela fica querendo saber de você, onde você guardou o verso que falta; porque não recita, não canta, não o grita ou o fala em voz alta. Porque pra ela faz falta. O verso e você. Juro que muitas vezes o vi, cantando baixinho, relendo cada estrofe, procurando as palavras que encaixam. Porque, por vezes, achou que ela mesma tinha pulado uma linha, perdendo-se por conta própria, por culpa própria, em algum detalhe em que não prestou atenção. Claro que em vão. O verso ausente você escondeu e não quis devolver. Ela até tentou consertar ou reescrever, mas em algum momento a caneta falhou. Juro que ela tentou até falar, mas aí o que falhou foi a voz. Procurou em Vinícius, Chico, Caetano e Engenheiros. Clarice, Caio e Gabito. Qualquer um que já tivesse dito o que ela tinha vontade de dizer, mas ninguém nunca disse. Nem mesmo chegaram perto.
Por muito tempo ela buscou palavras que te contassem a história que ficou pela metade. Essa meia verdade que ficou pelo caminho. Achar palavras simples, que possam tocar. Mas não sabe se existem. E nem sei se ela quer mesmo escrever. Acho que tem tudinho na cabeça, pra te cantar um dia. Pra pegar o verso de volta e voltar a escrever - sem finais por enquanto, nem tristes, nem felizes. Adora reticências, essa menina. A beleza, o toque, ela deixa pro abraço, na esperança de que você perceba, entenda, sinta. E permita.
Dia desses, ela foi falar com você, como nos velhos tempos. Numa conversa besta, em que você provavelmente não estava prestando atenção, ela disse que seu signo não combina com o dela. Como se ela não soubesse a sua resposta. "Bobagem. Eu não acredito em influências cósmicas". Bem, nesse caso, ela também não.
PS.: a música do título, nem preciso dizer que me lembra você. Tbm pq tem tudo a ver... Com o que aconteceu. (24/07/2012)

Depois de ler essa carta, o passado me veio à tona. Lembrei que, provavelmente fiz muitas cagadas em minha vida. Lembrei de muitas escolhas "malfeitas, feitas"... De muitas palavras que não precisavam serem ditas... De muitas coisas que poderia ter feito, e não fiz...

Mas lembrei de que um dia, vivi uma história legal. História, esta, que me fez ser quem sou, quando o assunto é a palavra escrita. E lembrei que sinto saudade.

Acho que não fiz certo em dizer as últimas coisas que disse à essa pessoa, mas foi o que eu tive vontade de dizer... 

Acho que usei reticências demais neste texto... Bem, velhos hábitos sempre voltam.